CASA DE CHÁ
Há um cantinho aonde o coração consegue respirar profundo e a alma deita, embora esteja sentada. Há um remanso de paz em um Paraíso Alto, que só alcançam aqueles que se curvam diante da majestade do divino, entrando por sua porta pequena. Nele aguarda um chá, com aroma de colo e calor de mãe. O vapor penetra as narinas devagar como um abraço, e daí em diante já a alquimia do amor nos transmuta e reconecta com a face mais intima do nosso querer: a criança escondida pula e cheira os objetos, lambe os talheres, brinca com os castiçais, se espelha e olha com travessura; aí a velha tece cobertores lilás que remetem às suas feridas, às suas cicatrizes, às rugas testemunhas de ter vivido intensamente.
Os tapetes viram paisagens de aventuras ainda não começadas, as paredes retratam seres que ainda não conhecemos, mas temos a certeza de que fazem parte do nosso mundo. E quando a torta de maça desfila até a nossa mesa, no seu tremor gelatinoso nossa boca treme também, como diante do primeiro beijo, sabendo que nunca mais seremos os mesmos. Porque uma receita que tem sido melhorada durante mais de 30 anos é quase um matrimonio, uma tese doutoral, um filho.
E com sorte conseguimos do “mestresala” entrar no cantinho dos elixires secretos e escolher um chá como quem escolhe um remédio pela intuição, que é dizer pelo olfato. Ali queremos levar os seres queridos para compartilhar, que é revivenciar e amplificar a experiência. Ali sentimos vontade de caminhar sem sapatos porque o chão de madeira faz caricias nos pés.
É um lugar como aqueles que sonhamos, aconchegante, sem recarregados ornamentos, com a difícil simplicidade do que é verdadeiro. Observando aprendemos harmonia e a música desenha arabescos no ar, que dançam com a fumaça invisível do chá.
Convencidos, nos rendemos a sua beleza. Seja a prosperidade o anel que te conquiste, encantadora casa de chá.
http://casadecha-go.blogspot.com.br/
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